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Rádio Cidade do RJ - 102,9 Mhz #Cap.2


O DESVIO DE PERCURSO DA RÁDIO CIDADE

A Rádio Cidade começou a decair em 1985.
Sua equipe original partiu para outros projetos. Como sempre acontece na vida, dificilmente as pessoas se fixam sempre nas mesmas atividades, e quem é dinâmico vai sempre arriscando novos trabalhos, ainda que abrissem mão de suas tarefas pioneiras. Isso é natural e saudável. Fernando Mansur havia saído da rádio para desenvolver, em 1984, a 105 FM, uma rádio pop que depois virou popularesca e, nos anos 80, se tornou afiliada da Rede Aleluia, da Igreja Universal do Reino de Deus.
No entanto, o perigo estava por vir. Luiz Antônio Mello, fundador da Fluminense FM e que foi profissional do Jornal do Brasil, havia escrito no livro A Onda Maldita - Como Nasceu e Quem Assassinou a Rádio Fluminense FM, que a equipe da Fluminense, naquela época de 1982-1984, já sentia um sério temor de que a Rádio Cidade, com seus muitos kilowatts, despejasse rock sobre o Rio de Janeiro. "Estaríamos ferrados", escreveu Mello em 1992, numa profética citação de uma sensação da época, só concretizada em 1995.
Depois do sucesso do Rock In Rio e da ascensão da rádio alternativa Fluminense FM, a Cidade começou a cobiçar o rock. Contratou locutores da Fluminense (incluindo Monika Venerabile e Milena Ciribelli), o que foi a raiz de uma dupla decadência, que tanto levou a Fluminense FM ao fim e a Rádio Cidade a uma completa perda de identidade. A Transamérica também seguiu o mesmo caminho da Cidade e contribuiu também para o fim gradual da Fluminense. Com igual prejuízo para a Transamérica em relação à Cidade.
A tímida adesão da Rádio Cidade ao rock era fruto de um acordo com alguns anunciantes, que eram grifes de moda jovem que também anunciavam na revista Domingo, suplemento do Jornal do Brasil. Interessava a lojas como Company, Blu 4 e Pier (as mais populares em moda jovem carioca), mais as lojas de moda surfista Reggae e Arrebentação (que passaram a anunciar na Rádio Cidade em fins de 1984), que a Rádio Cidade tivesse inserções de rock - porém nada além daquilo que fazia sucesso no Brasil e no exterior - em sua programação, ainda que seu formato declarado continuasse sendo o pop.
A contratação em 1985 de alguns locutores da Fluminense FM, no entanto, foi feita na melhor das intenções, baseada na sincera amizade que o diretor da Fluminense, Luiz Antônio Mello, que foi repórter da Jornal do Brasil AM, tinha com os idealizadores da Rádio Cidade. Alguns programas até bons foram ao ar, embora os produtores, não entendendo a linguagem desses programas, faziam os locutores falarem em cima das músicas, atrapalhando a audição integral das mesmas. Quem estava com o gravador ligado freqüentemente ficava com a paciência torrada por ver, por exemplo, aqueles primeiros riffs de determinada música serem abafados por uma locução simultânea, o mesmo ocorrendo, em outros casos, nos refrões finais.
O problema da contratação partiu não da equipe da época, mas da cúpula do Sistema JB, divisão de rádio, que sentiu o gosto de ver a Rádio Cidade de alguma forma relacionada ao rock. Era uma espécie de dor-de-cotovelo do Sistema JB de não ter desenvolvido o formato da Rádio Fluminense FM, uma rádio alternativa surgida sob a tutela do Grupo Fluminense de Comunicação, empresa niteroiense responsável pelo jornal O Fluminense, o mais importante jornal do Estado do Rio de Janeiro até a fusão em 1975 deste com a antiga Guanabara, Estado composto pela cidade do Rio de Janeiro depois que esta deixou de ser o Distrito Federal, com a inauguração de Brasília, em 1960.
Se por outro lado houve contratação de profissionais da Rádio Fluminense FM, depois foram contratados profissionais da Rádio Transamérica do Rio de Janeiro, liderados pelo então coordenador Eduardo Andrews. Segundo muitos ouvintes originais da Rádio Cidade, Andrews pode ser considerado o principal algoz da Rádio Cidade, pois implantou, primeiro, a locução neurótica, corrida e gritada, fórmula que iludiu e acostumou mal os jovens. E, segundo, a própria deturpação do perfil rock no rádio, reduzindo o repertório ao hit-parade do gênero e introduzindo um tipo de locução impróprio, por ser completamente dotado de debilidade mental, coisa que os radialistas originais de rock se recusaram sabiamente a fazer, inspirados na fase contracultural do rock, em que a imbecilidade era a regra a não ser seguida.
Andrews também esboçou a atual trajetória da 89 FM (que falaremos a seguir) depois de Tavinho Ceschi, ou seja, introduziu a mentalidade pop comercial diferente da visão criativa das rádios de rock originais. Como todo sujeito que comete erros sérios, Andrews saiu do segmento rock (depois do estrago ser feito).
A tentativa dessas rádios comerciais em embarcar no rock demonstra um sentimento de insegurança das mesmas naquela época. Com medo de seu perfil assumidamente pop soar datado, e vendo o grande sucesso do Rock Brasil e do festival Rock In Rio I, as emissoras chegavam até a tocar "Jailbreak", música mais acessível da banda australiana de heavy metal AC/DC (curiosamente de uma fase já extinta, com o vocalista Bon Scott, morto em 1980; "Jailbreak" foi lançada postumamente em 1984, quando o grupo já vinha há tempos tendo como cantor Brian Johnson, famoso por seu boné, cantor com o qual a banda veio para o primeiro Rock In Rio), além de tentar alguns "sucessos" da banda mais popular do gênero, o Van Halen, então com David Lee Roth como vocalista.
A Rádio Cidade havia passado pela experiência de patrocinar o concerto do Van Halen no Rio de Janeiro, em 1983. Bandas como Queen e Kiss haviam feito, respectivamente em 1982 e 1983, estrondoso sucesso nas suas apresentações brasileiras. O Kiss, por exemplo, estava em baixa nos EUA na época, e o sucesso no Brasil, se não foi o motivo principal, foi um fator importante para revitalizar a popularidade do grupo no seu país de origem, o que veio nos anos 90. O Queen, por sua vez, teve como seu sucesso mais marcante a versão ao vivo de "Love of my life", canção cuja versão original é pouco conhecida do grande público. A música, autoria do falecido Freddie Mercury, em sua versão ao vivo tem como destaque uma parte em que a platéia canta parte de uma estrofe.
Entre 1985 e 1988 a Cidade era mais tímida na abordagem do rock. Mas sua pretensão era nascente, só não "levantava a bandeira", gíria que significava "dizer que estava lutando por uma causa", no caso o rock. Falando mais claro, a Cidade ainda não se auto-definia como "rádio rock". Tocava o Rock Nacional e alguns intérpretes do pacote chamado "Música dos anos noventa" da WEA, que lançava grupos do porte de Smiths, Everything But The Girl (que em 1985 fazia a mesma linha melódica dos Smiths), U2, Echo & The Bunnymen, Dream Academy, Propaganda, Jesus & Mary Chain (este praticamente não era tocado pela rádio), Aztec Camera, Nik Kershaw etc..
A Cidade, nessa época, não ousava muito e ainda reservava espaço para a dance music e seus patronos, os mega-astros Michael Jackson e Madonna, além de outros nomes como Cyndi Lauper, o grupo Wham! (que lançou George Michael) e Lionel Richie. A Cidade também tocava coisas xaroposas como o grupo pop italiano Novecento e as babas "Yes", música de um tal de Tim Moore, e "Lover Why", do obscuro grupo francês Century. Estas duas últimas, estranhamente, ainda tocam nas rádios adultas de segundo escalão, mostrando um fenômeno curioso no Brasil de músicas de intérpretes obscuros serem bastante tocadas em rádio, até hoje, o que indica que deve haver algum empresário que detenha direitos autorais dessas obscuras canções, que chegam a reaparecer em coletâneas de flash back da Som Livre.
Uma das coisas mais heavy que a Rádio Cidade tocava era "Still loving you", linda canção da banda alemã Scorpions, que depois deste sucesso começou a desandar. Mas aí até a popularesca 98 FM, que se dedicava a Roberto Carlos, Wando, Fábio Jr., Sullivan & Massadas e companhia, tocava "Still loving you".
Um dos programas dessa época era o "102 decibéis", embrião do "Cidade do Rock". Era na prática um "listão roqueiro" ("listão" é um apelido que os profissionais de rádio dão para as paradas de sucessos que "amarram" uma quantidade limitada de músicas e intérpretes), ou um especial de um intérprete manjado. O programa teve um clone na 89 FM assim que esta surgiu, chamado "89 decibéis", depois convertido pela mesma FM paulista para uma lista das "10 mais pedidas dos ouvintes". Depois, já nos anos 90, a 89 mudou o nome para "Rock 10" e a Rádio Cidade, mesmo com o "Cidade do Rock", já adotou seu "Rock 10". E em ambos os casos o "Rock 10", em meados de 2000, ganham uma versão ampliada para "Rock 20" (20 mais pedidas), mas não faz muita diferença pois o hit-parade continua o mesmo, apenas dando espaço para as músicas de posição 11ª à 20ª.
Diante de vários protestos dos roqueiros, que acusavam a Rádio Cidade de oportunista, a emissora recuou das pretensões "levemente roqueiras" em 1989 e voltou a adotar a dance music como carro-chefe. O programa "Festa da Cidade" se tornava grande sucesso sendo apresentado por Marcelo Mansur, conhecido como "Memê", um dos mais conceituados DJs de dance music que havia começado em 1984 na Transamérica, onde trabalhava silenciosamente, com discotecagem e remixagem de músicas. Foi na Cidade, portanto, que Memê assumiu o microfone - com um estilo de locução nos mesmos moldes da Rádio Cidade original - e garantiu popularidade nos 102,9 mhz cariocas. O estilo de Marcelo Mansur como locutor encaixaria perfeitamente no perfil original da Rádio Cidade, com uma descontração inteligentemente pop. Memê, depois, passou a ser também produtor de remixagens, como nas músicas de Shakira e Lulu Santos, neste caso incluindo até um álbum inteiro, Eu & Memê, Memê & Eu (1996), cujo sucesso inspirou a reedição da mesma parceria em Bugalú (2003). Também lançou na coletânea Dance Nation, da Som Livre, uma música tendo nos vocais a belíssima atriz Kiara Sasso, de "A Bela e a Fera".
Mas a essas alturas a Rádio Cidade do Rio de Janeiro e de São Paulo já haviam ajudado no know how de uma nova emissora paulista, a esquizofrênica 89 FM (surgida das ruínas da emissora disco Pool FM, em 02 de dezembro de 1985), que paulatinamente passou a misturar o perfil rock com uma linguagem pop que agrada mais aos "filhinhos de papai" que moram em condomínios de luxo do que aos verdadeiros admiradores do rock.
Além a ascensão comercial da 89 em São Paulo, o perigo rondava quando a Cidade tirou, da Fluminense FM, os direitos de transmissão do programa "Novas Tendências", em março de 1990. O programa em si continuava em sua linha original, tendo duas horas na retransmissão pela 89 FM (SP) e Rádio Cidade (PE) entre 1987 e 1990, mas com a Rede Cidade passou a ter uma hora a menos - já teve duas horas semanais quando surgiu a Estácio FM e, entre 1986 e 1987, chegava a durar quatro horas na Flu FM - e, uma vez, foi obrigado a incluir o dance farofa 2-Unlimited no módulo de techno. O programa foi transmitido pela Rádio Cidade e 89 FM (São Paulo e Recife) entre 1990 e 1992, e entre 1991 e 1992 foi transmitido via-satélite para várias afiliadas, mas a rede via-satélite acabou em 1993.

PS: Todo o material foi recolhido em sites da internet desconhecendo-se a autoria. Afinal, como dizia um dos fundadores da Rádio Cidade, Fernando Mansur, "conte-me tudo, não me esconda nada".
2011-11-20T00:00:00.000-02:00

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